sexta-feira, 20 de junho de 2014

Debate da monarquia e da república em Espanha

 

 Cidadãos de todas as idades esperam o início da sessão pública do movimento político “Podemos”, em Madrid. O partido que abalou o panorama político espanhol nas recentes eleições europeias: poucos meses depois da fundação conseguiu obter 1.250 000 votos e eleger cinco eurodeputados.
Recuperam o espírito do 15 M, o movimento de protesto dos cidadãos contra os políticos e banqueiros, surgido em 2011.
Assumem-se democratas radicais – um paradoxo – mas a adesão continua a aumentar.O partido não toma posição sobre a república ou sobre a monarquia, mas quer impôr o debate nacional.
“Sim, pode-se.”
“Por mim, que não elegi nada até agora, considero que a monarquia não me representa. Gostaria de poder decidir que tipo de Estado quero.”
A abdicação do Rei Juan Carlos trouxe de novo à ribalta o debate entre monarquia e república.
A Constituição Espanhola estabelece a monarquia como sistema; teria de haver dois terços de maioria no Congresso e no Senado para aprovar uma proposta de alteração para uma emenda constitucional. Nesse caso, o Parlamento dissolvia-se para se abrir o processo constitucional.

 
 
 
Por enquanto é impossível: 85% do último Congresso votou a favor da lei que leva à coroação de Felipe de Borbón.
Pablo Iglesias, fundador do partido “Podemos”, insiste na necessidade de um refrendo.
“Não há um debate sobre a forma de Estado. O que se debate é se os espanhois têm idade legal e o direito de decidir por si mesmos ou se têm de continuar a acatar as decisões das elites tomadas em restaurantes sem intervenção da cidadania”.
Os conservadores e a grande maioria dos socialistas cerraram fileiras em torno da monarquia.
Miguel Arias Cañete, eurodeputado e ex-ministro do Partido Popular:
“Em Espanha, houve um amplo consenso constitucional, em 1977, para fazer uma Constituição, que é de 1978, o que nos permitiu ter o melhor tempo de liberdade, paz e prosperidade na história da Espanha. Foi esse consenso que nos garantiu uma estabilidade política sem precedentes, num país habituado à enorme instabilidade nas transições de um regime político para outro. “
Ramón Jáuregui, eurodemutado e ex-ministro do PSOE:
“O consenso faz falta ao país. A forma de Estado não é alterada porque 50% de espnhois impões a mudança. Para alterar o sistema, precisamos de uma estrutura social, uma esmagadora maioria do país a favor de uma ideia diferente, o que não existe em Espanha “.
Em Vallecas, um bairro de Madrid, há um comício com “paella Republicana”, organizado por um centro cultural. Além do arroz e da sangria, vêem-se muitas bandeiras da II República (1931/36).
Entre os participantes, José Antonio Pérez Tapias, ex-deputado do PSOE e aspirante a secretário-geral do partido. É da ala esquerda esquerda do partido, que inclui a possibilidade real de uma república.
José Antonio Pérez Tapias. Candidato para secretário-geral do PSOE:
“No Partido Socialista Operário Espanhol a memória republicana está muito viva, e num debate como o que está a ser suscitado pela abdicação do rei, acreditamos que temos de fazer valer esta memória republicana. Devíamos estudar a possibilidade de fazer um referendo para escolher a monarquia ou a república. No caso de o fazer, teria de ser no contexto de um processo constitucional.
Portanto, todo o debate parlamentar e público tem de ser feito em torno deesta questão. “

Sobre a memória da Segunda República: foi um complexo período da democratização, com luzes e sombras, frustrado pelo golpe de Estado de 1936, que provocou três anos de guerra civil e quase 40 de ditadura.
Sobre o assunto, conversámos com o historiador e académico Juan Pablo Fusi.
“Das grandes reformas da República, pessoalmente, considero correta autonomia à Catalunha, a reforma agrária e a reforma militar. O maior erro, na perspetiva atual, da política secular foi a confrontação com a maioria de toda a Espanha católica. Em 1931, a monarquia foi o maior problema para a democracia. No entanto, para acabar com a ditadura, a solução, em 1975-1978, foi precisamente a monarquia “ .
Algumas sondagens revelam que cerca de 60% da população acredita que, mais cedo ou mais tarde, deve ser realizado o referendo.
E mais de 70% de entrevistados consideraram que Felipe VI será um bom rei.
Entre os defensores da continuidade da monarquia parlamentar, em que as ações do monarca são totalmente controladas pelo Parlamento, os eleitores de várias opções políticas estão incluídos.
Entre os republicanos, estão vários grupos ligados ao 15M, que convidaram os cidadãos a deixar a sua opiniuão em caixas para serem transferidas para as suas páginas na internet.

A correspondente Marcela Martinez, da euronews, conclui:
“A abdicação de Juan Carlos I melhorou a avaliação da Monarquia. Algumas sondagens dão vinte pontos de vantagem em relação à República, 55-35%, mas o debate, do modo que temos observado, parece ser outro : o de poder decidir nas urnas o sistema estatal que se deseja”.

Nenhum comentário:

Postar um comentário