quarta-feira, 8 de maio de 2013

Preocupados com eventos na China, investidores vão para o Camboja

 

 

Sem dar muita bandeira, a Tiffany & Co. está construindo uma fábrica para polir diamantes no Camboja, um país mais lembrado pelos campos de extermínio e pelas minas terrestres do que pelas joias.
Algumas das maiores empresas do Japão também estão correndo para abrir fábricas em Phnom Penh e fazer chicotes elétricos para carros e touch screens e motores de vibração para celulares. Empresas europeias não ficam muito atrás e fabricam sapatilhas de dança e capinhas de microfibra para óculos de sol.
Milhares de empresas estrangeiras estão indo para o Camboja por uma simples razão: não querem mais depender tanto das fábricas da China.
Os problemas se multiplicam rapidamente para os investidores estrangeiros na China. Os salários dos trabalhadores aumentaram drasticamente, quadruplicando na última década, pois o boom das fábricas coincidiu com a diminuição no número de pessoas interessadas em trabalhar nelas. Desde o ano passado, a mão de obra chinesa começou a diminuir, em consequência da política de um filho e do envelhecimento da população.
"Quase todo dia recebo telefonemas de empresas que querem vir da China para cá", afirmou Bradley Gordon, advogado americano em Phnom Penh.
 
Contudo, as multinacionais descobriram que, embora possam fugir do aumento dos salários chineses, é impossível escapar dessa tendência. A população, economia e até mesmo a produção energética da maior parte dos países do sudeste asiático é menor que a de muitas províncias chinesas e às vezes menor até mesmo que a de uma única cidade chinesa. À medida que as empresas se dirigem ao sul, elas ocupam rapidamente a mão de obra local, elevando o salário de todos.
O investimento estrangeiro direto no Camboja aumentou 70% no ano passado, em comparação com 2011 e embora os salários e benefícios ainda sejam inferiores ao que os trabalhadores precisam para ter moradias decentes e uma dieta balanceada, milhões de pessoas estão conseguindo sair da miséria.
"As pessoas que vivem ao longo do Rio Mekong estão saindo da pobreza com a ajuda de fluxos de investimento estrangeiro trazidos pelo aumento dos salários na China", afirmou Peter Brimble, economista sênior do Banco de Desenvolvimento Asiático no Camboja.
Apenas um pequeno grupo de empresas, a maior parte em setores de baixa tecnologia, como o têxtil e o de calçados, deseja sair completamente da China. Contudo, muitas outras empresas estão construindo novas fábricas no sudeste asiático para suplementar as operações na China.
Crescimento do mercado chinês
O crescimento do mercado doméstico chinês, sua grande população e a enorme base industrial ainda tornam o país atraente para muitas empresas, de forma que a produtividade aumenta na mesma velocidade dos salários em muitos setores na China.
Apesar disso, o investimento estrangeiro na China caiu 3,5% no ano passado, depois de aumentos constantes desde 1980, a não ser em 1999, durante a crise asiática, e em 2009, durante a crise financeira global.
Ainda assim, os US$ 119,7 bilhões estrangeiros investidos na China continuam a diminuir o volume de investimentos do resto do planeta. Em comparação, o investimento no Camboja cresceu para apenas US$ 1,5 bilhão.
Mas o ano passado foi a primeira vez desde que os registros começaram a ser feitos, nos anos 1970, que o Camboja recebeu um investimento estrangeiro per capita maior que o da China.
"Ninguém quer fugir da China, as empresas só querem opções para diminuir o risco", afirmou Bretton Sciaroni, outro advogado americano no país.
Entre as fábricas japonesas, a Sumitomo faz chicotes elétricos para carros, a Minebea faz peças para celulares e a Denso vai começar a produzir motores de partida para motocicletas. A fabricante de calçados europeia Bloch está presente no Camboja, e a Oakley produz capinhas para seus óculos de sol.
O investimento estrangeiro também aumentou drasticamente no Vietnã, na Tailândia, em Mianmar e nas Filipinas nos últimos anos.
Com o aumento na demanda por funcionários, as condições de trabalho na região começam a melhorar. A Practics —uma empresa belga que é a maior fabricante mundial de capinhas de microfibra para óculos de luxo— criou um programa de benefícios trabalhistas que antes era raro no Camboja, oferecendo seguro médico, seguro contra acidentes, bolsas de estudo e almoços gratuitos.
Uma vez que os custos são extremamente baixos no Camboja, onde uma consulta médica custa apenas alguns dólares, o salário médio ainda está abaixo dos US$ 130 dólares. Na fábrica da empresa nos arredores de Xangai, trabalhadores que fazem o mesmo trabalho ganham de US$ 560 a US$ 640 por mês, incluindo subsídios impostos pelo governo, afirmou Piet Holten, o presidente da empresa.
NYT/The New York Times
Trabalhadores pintam parede de uma nova fábrica no Camboja
Os trabalhadores cambojanos produzem de 15% a 30% menos capinhas por dia que seus colegas em Xangai, mas a produtividade no Camboja está aumentando. "Nunca vai ser igual à da China, mas os custos são dois terços mais baixos e a China só está ficando mais cara", afirmou Holten.
De forma geral, os salários de trabalhadores braçais aumentaram até 65% nos últimos cinco anos no Camboja, embora ainda sejam tão baixos que os cambojanos continuam entre os assalariados mais pobres da Ásia.
Há uma década, trabalhadores vinham em massa em busca de emprego nas novas fábricas de Phnom Penh, mas "hoje você diz que precisa de gente para trabalhar, mas ninguém aparece", afirmou Sandra D'Amico, gerente geral da HR Inc. Cambodia, uma empresa de recursos humanos.
No inverno passado, greves paralisaram inúmeras fábricas taiwanesas de roupas mais simples, como maiôs, no leste do Camboja, depois da chegada de fábricas japonesas de produtos mais sofisticados, como ternos e luvas —que oferecem salários maiores e mais benefícios.
Na Zona Econômica Especial de Phnom Penh, no centro do Camboja, a Minebea atrai funcionários por meio da construção de dormitórios modernos de quatro andares para até 2.000 pessoas, com seis camas por quarto e uma grande sala de recreação  —muito melhor que os barracos de compensado e telha de zinco onde ainda vivem milhões de cambojanos.
A unidade "Laurelton Diamonds" da Tiffany já colocou as estacas de demarcação de uma fábrica moderna de 8.826 metros quadrados do outro lado da rua para polir pequenos diamantes e está em busca de uma certificação internacional de "construção verde" para o projeto.
O número de funcionários na região dobrou este ano, chegando a 20.000 trabalhadores, e deve dobrar novamente para 40.000 nos próximos anos, afirmou Hiroshi Uematsu, diretor administrativo da zona.
Custos de moradia e alimentação
Céticos como David J. Welsh, representante do Centro de Solidariedade AFL-CIO no Camboja, afirmam que o aumento nos custos de moradia e alimentação impede muitos trabalhadores de se beneficiarem realmente do aumento nos salários.
Ken Loo, secretário-geral da Associação de Empresas de Confecção do Camboja, afirmou que o setor precisa resistir à demanda dos funcionários por aumentos salariais para que o país seja capaz de manter a competitividade internacional.
Tatiana Olchanetzky, consultora de empresas do setor de bolsas e malas, afirmou ter analisado os custos da mudança da China para Filipinas, Camboja, Vietnã e Indonésia. Ela descobriu que a economia total era pequena, uma vez que a China produz a maior parte dos tecidos, fechos, rodinhas e outros materiais necessários para a fabricação de malas, e que teriam de ser enviados para a montagem dos produtos.
Contudo, algumas fábricas decidiram se mudar de toda forma, a pedido de clientes ocidentais que não querem depender de um único país.
Embora exista um risco em se instalar em um país cuja rede de suprimentos é desconhecida, Olchanetzky afirmou: "Eles acreditam que também seja um risco continuar na China".

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