sexta-feira, 22 de fevereiro de 2013

Crise na monarquia espanhola: e-mails comprometem ainda mais rei Juan Carlos


Iñaki Urdangarin, genro do rei da Espanha, Juan Carlos, alardeou com seus sócios que o monarca apoiou ativamente seus negócios em Valência quando já havia abandonado o Instituto Nóos. Essa é uma das revelações dos 197 e-mails que o ex-sócio do Duque de Palma, Diego Torres, entregou no sábado ao juizado, e aos quais o El País teve acesso.
"Vamos ver se nos falamos amanhã porque é importante. SM (supostamente Sua Majestade) comentou comigo sobre um possível patrocinador e, ao ir embora no domingo, quero deixá-lo bem atado em suas mãos", escreve Urdangarin a seu então sócio no dia Da Hispanidade de 2007, de acordo com El Pais.
Situação do rei Juan Carlos, da Espanha, se complica ainda  mais com e-mails

O jornal afirma que, naquela época, Urdangarin impulsionou o projeto Ayre: o objetivo era conseguir a participação de uma segunda equipe espanhola na 33ª edição da Copa da América.
De acordo com El Pais, há quase um ano, na primeira remessa de e-mails comprometedores para a imagem da monarquia, Diego Torres já revelou uma suposta mediação do rei - através de uma reunião com seu amigo, o marinheiro Pedro Perello, e uma de negociações com o ex-presidente da comunidade Valenciana, o popular Francisco Camps - a favor de seu filho.
Confira trechos da reportagem do El Pais:
O príncipe no organograma
Do projeto Ayre se chegou a desenhar um organograma que tinha em sua ponta o príncipe Felipe como presidente de Honra; Urdangarin iria ser presidente do conselho social, e sua esposa, a princesa Cristina de Bourbon, filha mais nova do rei Juan Carlos, como assessora esportiva. Ainda que a iniciativa não tenha prosperado, os novos documentos dão força à tese de que a Casa do Rei deu seu apoio. "Sobrevender a participação da Família Real quando você já sabe quem está nos ajudando, como você está fazendo, não creio que seja o melhor caminho", disse o filho do rei a Perelló, a quem lhe pede para manter "discrição". SM voltou a comentar comigo sobre a vontade de que o processo siga"
Mensagens da Casa do Rei
Os e-mails creditam a supervisão por parte do assessor das princesas e à gestão diária do Instituto Nóos, a entidade sem fins lucrativos com que Urdangarin e Torres desviaram 6 milhões de euros de dinheiro público dos governos das Baleares e de Valencia.
Carlos García Revenga, que era membro da direção do Nóos e que está sendo acusado, e outros supostos empregados que utilizaram um e-mail da Casa do Rei - sempre segundo os documentos - contaram a Urdangarin, por exemplo, sobre os carros que deveria contratar para o Instituto, e até sobre modelos de impressoras. " A HP 7550 que a Sua Majestade, a rainha, tem, possui uma qualidade de imagem muito alta", lê-se em um dos e-mails.
A relação entre Gárcia Revenga e 'Txikitín'
Gárcia Revenga aparece nos e-mails como um "faz-tudo" nos assuntos de Urdgangarin, de quem é depositário de grande confiança. Em 2003, o duque o informara de seus novos projetos profissionais - "é um trabalho muito bem pago e agradável para minha vida profissional", disse - e lhe enviara uma foto de mulheres nuas montadas em uma bicicleta. O título do e-mail é "Txikitín". O secretário das princesas envia a Urdangarin uma carta traduzida do Comitê Olímpico Internacional( COI), marca voos para São Paulo e o indica como responder a alguns convites de eventos...
O duque, que havia sido aluno na Esade, de Diego Torres - defendido pelo advogado Manuel González Peeters- recebe em um e-mail de 2003 uma proposta de uma escola de negócios: "Que Urdangarin como embaixador nos presenteará na Casa Real para expor essas ideias e discutir de forma concreta que poderíamos utilizar". O duque reenviou o e-mail a García Revenga com uma indicação: "Veja com a mente aberta".
 Sem dados da Princesa
Em sua declaração de sábado, Torres implicou a princesa Cristina - que também era membro da diretoria - na tomada de decisões da Nóos. Os e-mails não mostram, por enquanto, novos dados a respeito. É ratificado que o papel de Urdangarín no Nóos era meramente representativo: o mesmo firmava os contratos e a demissão no Seguro Social.
José Blanco desativa o tema
O ex-ministro do Desenvolvimento e deputado do PSOE José Blanco aparece envolvido nos e-mails de Torres. Antonio Ballabriga, ex-diretor do Nóos e ocupante de alto cargo do Banco Bilbao Vizcaya Argentaria(BBVA), informa em um e-mail a Urdangarin e a Torres que Blanco falou com o socialista Juan Ignasi Pla, então líder da oposição em Valencia, para deixar o assunto fora da pauta das perguntas parlamentares.
Em abril de 2006, haviam começado a questionar os convênios milionários para organizar o Summit de Valência. Blanco, segundo Ballariga, se encarregou de silenciar o assunto. "Estão tratando de fazer uma comunicação pessoal com a deputada que solicitou essa informação".
Novos projetos
Ballabriga levanta ao duque a possibilidade de participar na organização dos falidos Jogos Europeus. Como já havia abandonado o negócio do Instituto Nóos, lhe propõe figurar como porta-voz de uma "plataforma de apoio" ao evento para evitar que se vincule à Nóos. Eles tiveram que renunciar formalmente um mês antes por pressões vindas da Casa do Rei. Ballabriga lhe indica a necessidade de se reunir com o próprio Blanco e com o ex-secretário de Estado para o esporte, Jaime Lissavettzky, para "explicar os novos projetos fora do Nóos."
O assessor jurídico da Casa do Rei, José Manuel Romero, reiterou ontem que só indicou a Urdangarin, que devia se limitar a formar parte do conselho administrativo da FDCIS, a Fundação que sucedeu a Nóos.

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