quinta-feira, 3 de novembro de 2011

KMERS VERMELHOS SAO JULGADOS NO REINO DO CAMBOJA

O grande julgamento dos Khmers Vermelhos se abriu em junho em Camboja, mas está longe de terminar. Novas audiências estão marcadas para o dia 21 de novembro, quando os principais dirigentes do regime ainda vivos, alguns octogenários, devem responder pela morte de cerca de dois milhões de pessoas.

Além de crimes de guerra e contra a humanidade, Khieu Samphan, antigo presidente da Kampuchea democrática; Nuon Chea, "Irmão número 2"; ex-ministros; e sua mulher Thirith, também são acusados de genocídio contra os vietnamitas e os chams, uma etnia muçulmana.

Trinta anos depois da época mais escura de Camboja, uma pergunta volta sempre nas conversas com os cambojanos: "Por que Khmers mataram Khmers?"

"É a grande pergunta", diz Youkh Chang, diretor do DC-CAM (Centro de Documentação de Camboja). "Nós construímos Angkor, fomos uma magnífica civilização. Por que nos matamos? É difícil compreender".

Latt Ky, da Associação pelos Direitos Humanos e o Desenvolvimento em Camboja, diz acreditar que "o tribunal tem a capacidade para estabelecer os fatos". "A verdade pode ajudar as vítimas a se sentirem melhor", afirma.

A criação do tribunal foi fruto de um acordo de 2006 entre o governo de Phnom Penh e a ONU, que não acreditava na independência da Justiça cambojana. O tribunal é misto, com dois cojuízes (um cambojano e um internacional) que devem entrar em um consenso sobre suas decisões.

O primeiro-ministro Hun Sen, responsável pelo fim dos Khmers Vermelhos, sempre afirmou que um julgamento poderia quebrar a paz social.

"Onde estão as vítimas em tudo isso?", diz Chang. "Cada parte quer aparecer como o libertador do povo cambojano".

Em 2009 teve lugar o primeiro julgamento do tribunal. Douch, o diretor da tristemente famosa penitenciária S-21, foi condenado a 35 anos de prisão. Mais dois julgamentos estão previstos, mas as pressões do governo podem impedi-los.

A organização do tribunal prevê a participação ativa das vítimas no juízo através da acusação particular, uma novidade na Justiça penal internacional. É o caso de Prak Sarin, 76, que ficou três anos na prisão e perdeu muitos familiares. "Eu quero ter respostas e que os jovens saibam o que aconteceu", diz.

A história dos Khmers Vermelhos não é ensinada nas escolas. "Minha mãe sempre me falava da dureza daquela época, mas eu não acreditava até visitar a prisão S-21", diz Tina Sem, 20, que trabalha como voluntária no DC-Cam.

Até hoje, cerca de 4.000 pessoas aderiram à acusação particular, uma cifra que alguns observadores consideram baixa. Para Brice Poirier, da organização Advogados Sem Fronteiras, "há uma deficiência na informação ao público; é um sistema que permite a participação das vítimas mas não lhes dá os meios para se defenderem".

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