quinta-feira, 27 de outubro de 2011

AMERICANO INSULTA MONARQUIA TAILANDEZA

A Tailândia, onde o rei é considerado praticamente uma divindade, é o país do mundo com legislação mais apertada contra os crimes de lesa-majestade, ou insultos à monarquia.

Lerpong Wichaikhammat, que tem também o nome de Joe W. Gordon, de 55 anos, nasceu na Tailândia mas tem igualmente cidadania americana. Foi acusado divulgar informação considerada insultuosa e ameaçadora para a monarquia, depois de ter traduzido e colocado no seu blogue excertos do livro “The King Never Smiles”, uma controversa biografia do rei Bhumibol Adulyadej (que aos 83 anos é o monarca do mundo há mais tempo no poder), escrita por um autor americano e que foi proibida na Tailândia.

Os crimes de que é acusado foram cometidos há vários anos, ainda nos Estados Unidos, onde Gordon viveu cerca de 30 anos, no estado de Colorado, trabalhando como vendedor de carros, adianta a AP. Em Março regressou à Tailândia para um tratamento médico. O caso levanta preocupações sobre o alcance da lei tailandesa e da forma como é aplicada, tanto a cidadãos tailandeses como a visitantes estrangeiros, continua a agência.

Quando foi detido, em Maio, Joe Gordon começou por negar as acusações. Esta segunda-feira mudou de posição. “Apresento-me como culpado porque ninguém conseguirá vencer o processo... Não tenho hipóteses”, disse aos jornalistas que se concentraram no tribunal “Quero que o Governo americano ajude a libertar-me. Este é um caso de liberdade de expressão” . O veredicto dos juízes será conhecido no dia 9 de Novembro.

A embaixada dos Estados Unidos em Banguecoque ofereceu-lhe apoio, e afirmou que irá continuar a garantir-lhe assistência diplomática. “Iremos também continuar a abordar o seu caso junto das autoridades tailandesas, salientando em todas as oportunidades os seus direitos como cidadão americano. Pedimos às autoridades tailandesas que garantam que a liberdade de expressão seja respeitada”, afirmou Walter Braunohler, porta-voz da embaixada, num comunicado. E adiantou: “Os Estados Unidos mantêm o mais alto respeito pela monarquia e também pelo sistema judicial tailandês”.

O número de crimes de lesa-majestade tem vindo a aumentar. Os críticos afirmam que a lei está a ser usada nos últimos cinco anos para calar activistas e políticos. Os generais que derrubaram o antigo primeiro-ministro Thaksin Shinawatra em 2006 apontaram para um alegado desrespeito pela monarquia, entre outras razões.

David Streckfuss, um académico que vive no país e monitoriza os casos de lesa-majestade, afirmou à Reuters que 397 acusações foram apresentadas a tribunal entre 2006 e 2009. Nos 15 anos anteriores, havia apenas quatro ou cinco casos por ano.