terça-feira, 27 de setembro de 2011

ALGUEM PELA MONARQUIA LIBIA

O filho de um premiê líbio da época da monarquia e membro do Conselho Nacional de Transição (CNT), Ahmed Otman Assed, diz que faltam representantes da corrente nacionalista na liderança da coalizão que depôs o ex-ditador Muammar Gaddafi.

"O nacionalismo é forte no povo, entre os rebelados do Exército, mas não no Conselho, no qual prevalece o islamismo", disse à Folha em Rabat, capital marroquina, onde seu pai viveu exilado e onde mora. O CNT tem cerca de 80 integrantes.

Assed diz que é um erro reproduzir no comando da Líbia divisões tribais e regionais. Não acha que os fundamentalistas sejam fortes entre os grupos rebeldes de orientação religiosa, mas adverte sobre a volatilidade da situação. "Quando há tanta gente armada, ela pode sair de controle."

Ele afirma que seu pai, Mohammed Assed, premiê de 1960 a 1963, comandou com apoio marroquino a primeira tentativa de depor Gaddafi, em 1970, apenas um ano depois do golpe de jovens oficiais que levou o ex-ditador ao poder. "Mas ele era bem protegido na época."

Diz ter dois primos que eram do governo em Trípoli e que foram presos, e que a maioria dos altos funcionários que desertaram no início do atual conflito era pessoas levadas em 2006 pelo herdeiro político de Gaddafi, o seu filho Saif.

Na época, a Líbia e os países ocidentais tinham acabado de reatar relações, e Saif cultivava uma imagem de reformista.

Para Assed, a maioria dos líderes árabes não hesitou em ir contra Gaddafi porque o dirigente líbio financiava grupos oposicionistas em países rivais. "Mas era muito desorganizado, mudava toda hora as organizações que apoiava, então não era muito eficaz."

Ele diz defender uma Assembleia Constituinte para elaborar a Constituição do país. O peculiar sistema político criado por Gaddafi, inspirado em seu "Livro Verde", não se apoiava numa Constituição.

Assed afirma que até pode vir a apoiar a monarquia, primeiro regime instituído após a Líbia ter sido criada pela ONU (Organização das Nações Unidas), no início dos anos 1950, a partir de territórios antes colonizados pelos italianos. Mas que teria que ser uma monarquia constitucional, "aceite pelo povo e pela comunidade internacional".