domingo, 8 de maio de 2011

NOVO PRIMEIRO MINISTRO DO TIBETE

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"A Comissão declara Lobsang Sangay como terceiro 'kalon tripa' [primeiro-ministro]", anunciou o chefe da comissão eleitoral, Jampal Chosang. O novo primeiro-ministro substituirá Samdhong Rinpoche, cujo mandato termina em Agosto.

A diáspora tibetana elegeu Sangay com 55 por cento dos votos – 27051 tibetanos em todo o mundo votaram neste candidato – numa afluência às urnas já elogiada pelo seu líder espiritual. “O Dalai Lama ficou muito feliz porque as pessoas tiveram um papel activo no processo eleitoral”, disse um responsável da administração central tibetana à Reuters.

Para trás ficaram Tenzing Namgyal, especialista em estudos tibetanos da Universidade de Stanford, com 37.4 por cento dos votos; e Tashi Wangdi, com um cargo no anterior Governo, com apenas 6.4 por cento.

Em Março, Tenzin Gyatso, o 14º Dalai Lama, de 76 anos, anunciou formalmente o seu desejo de se afastar da vida política – mantendo o cargo de líder espiritual - entendendo ter chegado a hora de delegar a sua “autoridade formal num líder eleito”. A maioria do Parlamento tibetano contestou a decisão na altura, mas acabou por se conformar com a vontade do chefe religioso que assegurou que iria continuar a lutar pelos direitos do povo tibetano.

De acordo com vários analistas, o objectivo de Tenzin Gyatso seria garantir que, mesmo que o Governo de Pequim tentasse escolher o próximo Dalai Lama, os tibetanos teriam um líder eleito fora do controlo do Partido Comunista chinês.

As autoridades chinesas entendem que o Dalai Lama (que acusam de envolvimento em actividades separatistas) se devia manter afastado da política, e já indicaram que pretendem controlar a escolha do próximo Dalai Lama.

Um cargo difícil

Lobsay Sangay era o mais jovem dos três candidatos ao cargo e o esperado vencedor. Nascido na Índia em 1968, estudou na Universidade de Harvard onde se especializou em Direito Internacional e onde é professor. Em jovem foi líder do Congresso da Juventude Tibetana, a organização não-governamental que exige a total independência do Tibete, apesar de nunca lá ter vivido já que o seu pai abandonou o país em 1959, no mesmo ano em que Dalai Lama se viu obrigado a fazê-lo.

O novo primeiro-ministro, que se encontrava nos EUA quando foi anunciado o resultado das eleições, deverá mudar-se para Dharamsala, a cidade no Norte da Índia onde está sediado o Governo tibetano no exílio.

O seu papel não será fácil. A Lobsay Sangay caberá a complicada tarefa de manter viva a questão tibetana na agenda internacional, numa altura em que a figura emblemática da luta pelos direitos tibetanos se afasta da ribalta.

Sangay foi eleito chefe de um Governo que não é reconhecido por nenhum país e enfrentará um opositor na China que não mostra quaisquer sinais de compromisso, lembra Mark Dummet, correspondente da BBC em Nova Deli.

Ainda assim, Sangay já fez saber que será capaz de ir além da política da “via do meio” defendida por Dalai Lama, que não exige a independência total mas apela a uma maior autonomia.

Pequim controla o Tibete desde a ocupação da região por forças comunistas, na década de 1950.