Um dos responsáveis da comissão de investigação, Vladimir Soloviov, citado na segunda feira pelo diário russo Izvestia, afirmou que "participaram na investigação os principais peritos sobre este tema, historiadores, arquivistas. E posso dizer que não há nenhum documento credível a provar que isso [a execução] tenha sido levada a cabo por ordem de Lenine ou de Sverdlov".
A investigação foi concluída na passada quinta feira, 14 de Janeiro, após ser reaberta em Maio passado a pedido de descendentes da família imperial. Antes disso, o Supremo Tribunal russo considerara em Outubro de 2008 o czar Nicolau II, a sua mulher e cinco filhos como "vítimas de repressão política". Mas, no início do ano seguinte, a investigação fora arquivada porque os membros da comissão concluiram que não se tratava de um caso político e sim de delito comum.
A família imperial fora fuzilada em 17 de Julho de 1918, na casa onde se encontrava detida. O czar Nicolau II pedira asilo na Grã-Bretanha após o fim da monarquia, em Fevereiro de 1917. Mas o seu primo Jorge V, rei de Inglaterra, recusara-lho, com receio da agitação política que poderia provocar no país anfitrião o acolhimento da figura de topo de um regime conhecido como autocrático.
Os bolcheviques tinham liderado a tomada do poder pelos sovietes em Novembro de 1917 e tiveram de lutar pela sobrevivência do novo regime contra exércitos russos contra-revolucionários e contra forças invasoras de vários países hostis à revolução. O czar e a sua família ficaram nessa fase detidos em Ekaterinburgo, próximo dos Urais. Foram tratados correctamente, embora sem privilégios: queixavam-se por exemplo de terem alimentação idêntica à da guarnição que os guardava.
O destino da família imperial estava longe de ser para a direcção bolchevique uma preocupação prioritária, embora a literatura memorialística posterior contenha várias referências a uma intenção de fazer julgar o czar, nomeadamente pelas suas responsabilidades no "Domingo Sangrento" de São Petersburgo, em que o massacre de uma multidão de peticionários pacíficos desencadeara a revolução de 1905 - "ensaio geral" para 1917.
Aconteceu porém que um dos exércitos invasores da Rússia soviética - o exército checo - se aproximava, nesse Verão de 1918, perigosamente de Ekaterinburgo. Do lado bolchevique, receou-se a certa altura que as forças checas libertassem a família imperial e, desse modo, se reanimasse do lado "branco", ou contra-revolucionário, a expectativa de uma restauração monárquica.
A decisão de executar a família real - o imperador, sua mulher e seus descendentes, em parte ainda crianças, com possíveis pretensões a uma sucessão dinástica - foi sempre atribuída à preocupação de impedir a restauração da monarquia. A polémica girou, no entanto, em torno da fonte da decisão.
Quando ela foi comunicada à família imperial, minutos antes da execução de todos os seus membros, foi-lhe comunicada como decisão do soviete local de Ekaterinburgo. No entanto, e como era expectável, desenvolveu-se sempre por parte dos inimigos do bolchevismo um esforço considerável para provar que a decisão vinha de Moscovo. Embora nunca se tenha explicado por que havia o soviete local de assumir uma responsabilidade tão pesada, se a decisão viesse de cima, em teoria não era impossível que isso sucedesse.